domingo, 21 de junho de 2009

Segundo dia.


     .'Era um lugar estranho. Tinha paredes enormes, e dentro das maiores paredes, tinham mais paredes, formando quadrados menores. E esses quadrados menores guardavam muitos seres. Muitos mesmo. Parecia minha caixa de brinquedos. Não cabia mais nada dentro, mas se eu deixasse algum de fora, alguém podia se maxucar. E eu tinha que apertá-los e deixá-los lá dentro. Tinha seres escuros, claros, cinzas; alguns gritavam e batiam nas grades dos quadrados pequenos. Não me pareciam felizes. Isso me confundiu. Por algumas vezes, pude perceber outros quadrados ao longo das minhas outras visitas, também com grades, mas não com tantos seres assim.. Também falavam alto, gritavam e pulavam, mas pareciam gostar de tudo aquilo. Esses, os dos quadrados menores, não pareciam.. Perguntei à minha mãe..
                   -Por que essas pessoas não parecem felizes?
                   -Porque elas não estão.
                   -Mas por que então, se não estão felizes, não saem daí?
                   -Porque não podem..
                   -E por que não podem, se em outros quadrados, também com grades, seres iguais a eles podiam sair e voltar conforme quisessem?
                   -Porque não são seres iguais, Escárnio.
                   - Como não? Têm dois olhos, uma boca, dois ouvidos, braços, pernas, nariz, e aposto que se os abríssemos, seriam iguais também.
                   - São iguais assim, mas não aqui - Mamãe tocou no peito. Era a única coisa que eu acreditava ser igual aos seres humanos. Podíamos ter cores diferentes, enxergar de modos diferentes, e falar de modos diferentes, mas nessa parte, todos tinham a mesma coisa.
                   -Os que você viu entrando e saindo de seus quadrados com grades, eram seres que agem da forma certa de agir. Mas não se engane, meu filho. Nem todos os que têm belos quadrados, agem tão corretamente assim.. Alguns merecem tanto ou mais que aqueles outros infelizes. Mas a maioria não faz mal.. Eles não acreditam muito. Mas daqui eu vejo, como você vê. Ainda há seres humanos bons naquele planeta azul que você cisma em visitar. Alguns são conhecidos, outros não. Alguns aparentam ser maus, mas isso é só uma máscara, pra que os maus de verdade não os machuque.
                   -Então aquele mundo é um teatro, mamãe?
                   -Talvez, Escárnio. Talvez. Mas aquele quadrado que você viu, e o sentimento que você teve.. Tudo aquilo foi bem real.